"A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê."
— Hebreus 11, 1
Amigos em Cristo, a paz! Como estudante de Engenharia de Software, costumo lidar com sistemas lógicos onde cada entrada (input) deve gerar uma saída (output) previsível. Se Deus é o Logos (a Razão Suprema), a nossa relação com Ele não poderia ser irracional.
No artigo anterior, iniciamos nossa caminhada falando sobre A Catequese, esse "eco" da Palavra que nos introduz no mistério de Cristo. Agora, diante desse convite que a Igreja nos faz, precisamos dar uma resposta pessoal. Essa resposta tem um nome: Fé.
Infelizmente, o mundo moderno reduziu a fé a um "sentimento religioso", uma emoção passageira ou, pior, um "salto no escuro" onde desligamos o cérebro para aceitar o impossível. Isso não é a fé católica.
Neste artigo, vamos mergulhar na definição dogmática da fé e entender, com a ajuda de São Tomás de Aquino e Santo Agostinho, como ela opera em nossa inteligência.
1. O Que é a Fé? (A Definição Dogmática)
A fé não é uma "aposta". O Catecismo da Igreja Católica (CIC) é cirúrgico ao defini-la:
Note as palavras usadas: inteligência e vontade. A fé é um ato de conhecimento. Não é crer em "alguma coisa" abstrata, mas primordialmente crer em "Alguém". É uma adesão pessoal a Deus e, simultaneamente, um assentimento livre a toda a verdade que Ele revelou.
A Escritura chama essa postura de "a obediência da fé" (Rm 1, 5). Obedecer (ob-audire) significa "ouvir com profunda atenção e submissão". Temos dois modelos perfeitos disso na história da Salvação:
- Abraão: Que confiou na promessa do impossível, saindo de sua terra sem saber para onde ia.
- Maria Santíssima: Que, com seu fiat ("Faça-se"), ofereceu a Deus a resposta perfeita, acolhendo o Verbo primeiro em seu coração e depois em seu ventre.
2. A "Engenharia" do Ato de Fé
Segundo São Tomás de AquinoMas como funciona esse ato de crer na nossa mente? É aqui que a teologia se torna fascinante.
São Tomás de Aquino, o Doutor Angélico, explica na Suma Teológica (II-II, q. 2, a. 9) que a fé é um ato híbrido e complexo. Normalmente, nossa inteligência só aceita aquilo que ela vê claramente (como 2+2=4). Porém, as verdades de Deus (como a Trindade ou a Presença Real na Eucaristia) não são evidentes aos olhos físicos nem à pura razão natural.
Então, o que nos faz aceitá-las? São Tomás explica: já que a inteligência não "vê" por completo, ela precisa de um empurrão. Quem dá esse empurrão é a Vontade, movida pela Graça. Eu escolho crer porque confio na autoridade de Deus que não mente. Portanto:
"Crer é um ato do entendimento que adere à verdade divina, por império da vontade movida pela graça de Deus."
3. Fé e Razão: O Princípio de Santo Agostinho
Sendo a fé um ato da inteligência, ela não pode ser inimiga da razão. Pelo contrário, elas são as "duas asas" que nos elevam à verdade.
Santo Agostinho, nosso patrono, combatia a ideia de uma fé cega. Ele nos deixou o célebre lema: "Crede, ut intelligas" (Crê para que possas compreender) e "Intellige, ut credas" (Compreende para que possas crer).
A fé não anula o pensamento; ela o expande. É como um telescópio: o olho humano (razão) tem um limite, mas com a ajuda da lente (fé), ele consegue enxergar verdades que estão muito além, sem deixar de ser olho.
4. As Características Essenciais da Fé
Para finalizar, precisamos ter clareza de que a fé católica possui características inegociáveis:
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É um Dom (Graça)
Ninguém "fabrica" a fé pelo próprio esforço. Ela é uma virtude teologal infundida por Deus no Batismo. Precisamos dos "auxílios internos do Espírito Santo" para começar a crer.
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É um Ato Humano (Liberdade)
A graça não nos força. Deus não quer robôs programados para adorá-Lo, mas filhos que O amam livremente.
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É o Início da Vida Eterna
Santo Agostinho dizia que "a fé é acreditar no que não vemos; e a recompensa da fé é ver o que acreditamos". Ter fé é já possuir, em semente, a alegria do Céu.
Portanto, a fé que professamos não é um sentimento instável. É uma certeza sólida, um alicerce sobre o qual podemos construir toda a nossa vida.
Mas, para crermos, precisamos que Deus se mostre a nós. Como Ele fez isso? É um Deus mudo ou um Deus que fala? É exatamente isso que veremos no nosso próximo artigo, sobre A Revelação.
Até lá!