"Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça."
— 2 Timóteo 3, 16
Amigos em Cristo, a paz! No nosso último encontro, falamos sobre o "sistema de segurança" da nossa fé: o tripé formado por Escritura, Tradição e Magistério. Hoje, vamos fazer um zoom na primeira perna desse tripé: a Sagrada Escritura, a Bíblia.
Muitos olham para a Bíblia apenas como um "livro antigo" cheio de regras ou histórias difíceis. Mas, para nós católicos, ela é muito mais.
Analogia Técnica
Na linguagem da engenharia, se a Tradição é o know-how vivo da Igreja (a prática), a Bíblia é a documentação oficial e imutável do projeto de Deus.
Mas cuidado: não é uma documentação fria. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) diz que, nas páginas sagradas, "o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro dos seus filhos e com eles fala" (CIC, n. 104). É uma Carta de Amor.
Para não nos perdermos nessa leitura, precisamos entender três conceitos fundamentais: Inspiração, Unidade e Interpretação.
1. A Inspiração Divina
O Milagre da Dupla AutoriaComo a Bíblia foi escrita? Deus ditou palavra por palavra, como se o autor humano estivesse em transe (psicografia)? Não. A Igreja ensina o milagre da dupla autoria.
Ele inspirou o que queria que fosse escrito, garantindo a verdade salvífica sem erro.
Deus usou as faculdades, talentos e cultura dos autores (Mateus, Paulo, Moisés). Eles escreveram com estilo próprio.
O CIC explica: "Deus escolheu homens [...] para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria" (CIC, n. 106). Por isso a Bíblia tem estilos diferentes: a poesia dos Salmos, a lógica de Paulo, a simplicidade de Marcos.
2. A Unidade
Antigo e Novo TestamentoMuitos cristãos desprezam o Antigo Testamento, achando que é coisa do passado. Erro grave! A Bíblia é um projeto único. O Antigo Testamento prepara o Novo, e o Novo cumpre o Antigo.
Nosso patrono, Santo Agostinho, resumiu isso com uma frase genial que se tornou dogma:
"O Novo Testamento está escondido no Antigo, e o Antigo é revelado no Novo."
Não podemos entender Jesus sem entender os profetas que O anunciaram. É tudo uma única história de salvação.
3. Como ler a Bíblia?
Os Sentidos da Escritura (São Tomás de Aquino)Aqui entra a parte técnica. Não podemos ler a Bíblia como lemos um jornal ou um livro de ciências. São Tomás de Aquino nos ensina que a Escritura tem dois sentidos principais:
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Sentido Literal
É o que as palavras significam no contexto histórico e gramatical. É a base de tudo. Precisamos entender o que o autor quis dizer naquela época.
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Sentido Espiritual
Graças à unidade do plano de Deus, as realidades literais apontam para coisas maiores. Ex: A travessia do Mar Vermelho (literal) é um sinal do Batismo (espiritual) que nos liberta.
Conclusão
A Bíblia não é um livro para ser lido sozinho, de forma isolada, criando interpretações da própria cabeça. Ela é o Livro da Igreja. Como dizia São Jerônimo: "Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo".
Que tal tirar a poeira da sua Bíblia hoje? Mas lembre-se: leia com a Igreja, buscando não apenas a letra, mas o Espírito.
No próximo artigo, vamos explorar a segunda perna do tripé, aquela que deu origem à Bíblia: a Sagrada Tradição.
Até lá!