"Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai as tradições que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa."
— 2 Tessalonicenses 2, 15
Amigos, a paz!
A Analogia do "Controle de Versão"
Imagine que você desenvolveu um código-fonte perfeito para um sistema vital. Você precisa transmitir esse código para gerações futuras de programadores sem que nenhuma linha seja alterada, deletada ou corrompida. Se você apenas entregar um pendrive para alguém e disser "passe adiante", em poucos anos, com o "efeito telefone sem fio", o sistema estará cheio de bugs e erros. Para garantir a integridade dos dados, você precisaria de um sistema robusto de controle de versão e validação.
Na história da Salvação, Deus fez algo semelhante. No artigo anterior, vimos que Ele se revelou em Jesus Cristo. Mas como garantir que os ensinamentos de Jesus chegariam até nós, aqui no século XXI, exatamente como Ele ensinou, sem distorções?
A resposta católica é sólida e lógica: Deus estabeleceu um "sistema de segurança" composto por três pilares inseparáveis: Sagrada Escritura, Sagrada Tradição e Sagrado Magistério. Vamos entender esse tripé.
1. Sagrada Escritura
A Palavra Escrita.
A Bíblia Sagrada, redigida sob a inspiração do Espírito Santo.
2. Sagrada Tradição
A Palavra Vivida.
A transmissão viva da Palavra de Deus confiada por Cristo aos Apóstolos.
3. Sagrado Magistério
O Guardião.
O Papa e os Bispos, que têm a missão exclusiva de interpretar autenticamente a Palavra.
1. A Sagrada Escritura (A Palavra Escrita)
É a Bíblia Sagrada. Cremos que ela é a fala de Deus, redigida sob a inspiração do Espírito Santo. No entanto, a Bíblia não caiu do céu pronta com um zíper. Ela nasceu dentro da comunidade de fé. Foi a Igreja quem discerniu e garantiu quais livros eram realmente inspirados. Sem a Igreja, teríamos apenas uma coleção de papéis antigos, sem a garantia divina.
2. A Sagrada Tradição (A Palavra Vivida)
Aqui está um ponto que muitos confundem. "Tradição" (com T maiúsculo) não são costumes humanos (como procissões ou festas). A Sagrada Tradição é a transmissão viva da Palavra de Deus. Jesus não escreveu nada; Ele pregou e confiou essa pregação aos Apóstolos. Antes de o Novo Testamento ser escrito (o que levou décadas), a fé era transmitida oralmente e pela vida litúrgica.
3. O Sagrado Magistério (O Guardião)
Se temos o Livro (Escritura) e a História (Tradição), quem decide a interpretação correta quando surge uma dúvida? Na engenharia, quando há dúvida sobre uma regra de negócio complexa, recorremos ao Arquiteto Sênior ou à documentação oficial, e não à opinião de qualquer estagiário. Na Igreja, esse papel é do Magistério: o Papa e os Bispos em comunhão com ele.
São Tomás de Aquino reforça que a fé precisa de uma regra segura. O Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serve. Ele é o "servidor" que garante que a mensagem não seja alterada.
Conclusão: O Tripé Indissolúvel
Muitas denominações cristãs tentam se equilibrar em apenas uma perna (Sola Scriptura - Somente a Bíblia). A engenharia nos ensina que um tripé é a estrutura mais estável que existe. Se você tirar uma das pernas, tudo cai.
O Catecismo resume essa união vital: "A Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal modo entrelaçados e unidos, que um não tem consistência sem os outros." (CIC, n. 95)
É graças a esse sistema de segurança divino que podemos ter a certeza, hoje, de que cremos no mesmo Jesus dos Apóstolos. Nos próximos artigos, faremos um zoom e aprofundaremos em cada um desses pilares, começando pela Sagrada Escritura.
Até lá!